quinta-feira, 23 de abril de 2009

MONOGRAFIA DE TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO I

Atenção alunos de Teologia do NT. Algumas informações importantes sobre o trabalho de conclusão da disciplina:

Data de Entrega

11/06 para a turma da noite
16/06 para a turma da tarde

Temas

1 - A Blasfêmia contra o Espírito Santo.
2 - O Reino de Deus: o já e o ainda não; e sua relevância para o ministério da igreja hoje.
3 - A auto-imagem cristológica de Jesus.
4 - A Escatologia de Jesus nos sinóticos.
5 - O Batismo no Espírito Santo em Atos.

Critérios

- No mínimo seis laudas completas (1 p/ introdução, 4 p/ desenvolvimento e 1 p/ conclusão).
- Consultar, no mínimo, seis autores (livros específicos sobre o tema, de Teologia do NT e comentários bíblicos).
- Fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12, espaçamento 1,5; citações com notas de rodapé.

Bibliografia Recomendada

Livros de Teologia do Novo Testamento:

BULTMANN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento – Teológica.
GOPPELT, Leonhard. Teologia do Novo Testamento – Teológica.
KÜMMEL, Georg Werner. Síntese Teológica do Novo Testamento – Teológica.
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento – Hagnos.
MARSHAL, I Howard. Teologia do Novo Testamento – diversos testemunhos, um só evangelho – Vida Nova.
MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento – Vida Nova.

Comentários Bíblicos:

ARRINGTON, French L. & Roger Stronstad. Comentário Bíblico Pentecostal – CPAD.
CHAMPLIN, Russel N. O Novo Testamento Interpretado – Versículo por Versículo – Hagnos.
HENDRIKSEN, William. Marcos – Cultura Cristã.
HENDRIKSEN, William. Mateus – Cultura Cristã.
HENDRIKSEN, William. Lucas – Cultura Cristã.
MARSHAL, I Howard. Atos – Vida Nova.
MORRIS, Leon. Lucas – Vida Nova.
MULHOLLAND, Dewey M. Marcos – Vida Nova.
PFEIFFER, Charles F. & Everett F. Harrison. Comentário Bíblico Moody – EBR.
STOTT, John R. W. A Mensagem de Atos – ABU.
TASKER, R. V. G. Mateus – Vida Nova.

Obras de apoio:

COENEN, Lothar & Colin Brown. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento – Vida Nova.
RIENECKER, Fritz & Cleon Rogers. Chave Lingüística do Novo Testamento Grego – Vida Nova.

Obras específicas para cada tema:

SHEDD, Russel P. Escatologia do Novo Testamento – Vida Nova.
STOTT, John R. W. O Batismo e a Plenitude no Espírito – Vida Nova.
Sobre o tema 2, conferir alguns textos em: http://www.vidanova.com.br/congresso_texto_prele2008.htm

Outros livros, na mesma linha, serão aceitos.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

REINO DE DEUS E REINO DOS CÉUS

Os três evangelistas sinóticos, ao relatarem o início do ministério público de Jesus, utilizam mais ou menos o mesmo esquema redacional de Marcos[1]: o seu batismo por João, a tentação no deserto e o retorno para a galiléia para pregar o que seria o conteúdo básico da sua mensagem: o reino de Deus. Marcos transcreve este discurso do próprio Senhor: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1: 15). Lucas revela a compreensão do Mestre de que esta era a essência da sua missão: “É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado” (Lc 4: 43). Mateus, narrando a atividade de Jesus, diz: “Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo” (Mt 4: 23). Para os três autores, as palavras que saíram da boca de Jesus estavam relacionadas com a mensagem acerca do evangelho do reino.
Todavia, quando partimos para a leitura de Mateus, percebemos o seu uso, em várias passagens, de uma expressão diferente, que não é encontrada nos outros dois sinóticos: o reino dos céus. “Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4: 17). Seria o reino dos céus algo diferente do reino de Deus?
Um número considerável de estudiosos respeitáveis como Charles Ryrie, Dwight Pentecost e John Walvoord defendem uma distinção de sentido para as duas expressões. Esses são grandes representantes de uma linha de pensamento, hermenêutico e teológico, denominada dispensacionalismo. Os dispensacionalistas têm, entre os seus pressupostos, dois considerados fundamentais: (1) a crença de que as profecias do Antigo Testamento, em relação a Israel, precisam ser cumpridas de forma literal; (2) a certeza de que Israel e a Igreja são dois povos distintos cujos destinos estão sujeitos a programas distintos da parte do Senhor. O reino dos céus, segundo essa linha de pensamento, significa o domínio de Deus sobre a terra em relação ao cumprimento das promessas vétero-testamentárias de um reino terreno e material para Israel. Devido ao fato de Israel ter rejeitado este reino, em Cristo, surge uma nova mensagem nos lábios do Mestre: o reino de Deus. Essa nova mensagem diz respeito a um reino de natureza mais espiritual e abrange todos os povos que crerem, a igreja. Quanto ao reino dos céus, esse se consumará escatologicamente, após o arrebatamento pré-tribulacional da igreja e a conversão de Israel durante a tribulação. Em seguida a esses fatos vem o reino milenar onde Israel se estabelecerá territorialmente em Jerusalém com a restauração do trono de Davi.
Essa leitura de dois reinos diferentes proporcionaria uma boa explicação para o problema da diferença de linguagem existente entre a promessa do AT sobre o reino messiânico – uma conquista política terrena (cf. Is 9: 1-7) – e o reino conquistado por Jesus no NT – caracterizado como sendo de natureza mais espiritual. Conforme afirmou Ladd: “Este é um mistério insolúvel para a teologia do Novo Testamento, encontrado não apenas nos sinóticos, mas também em outros textos. Os inimigos do Reino de Deus não são agora as nações hostis e ímpias, como no Antigo Testamento, mas sim os poderes espirituais malignos. A vitória do reino de Deus é uma vitória no mundo espiritual: o triunfo de Deus sobre Satanás”.[2] O que Ladd afirma ser um ‘mistério insolúvel’ seria facilmente explicado pelo pensamento dispensacionalista. A linguagem muda porque o reino prometido no AT teria sido adiado em virtude dos judeus terem rejeitado o Messias. Logo o reino passou a ser outro, de natureza mais espiritual, para a igreja.
Partindo de uma leitura dogmática, baseada em pressupostos dispensacionalistas, seria fácil aceitarmos esta explicação. No entanto, um fato, conquanto básico, atesta de forma bastante conclusiva a impossibilidade da mesma: o intercambiamento dos dois termos que os evangelistas adotam para expressar as mesmas passagens. Para Marcos, o reino de Deus era o conteúdo do evangelho que Jesus pregara na Galiléia após a prisão de João (Mc 1: 14, 15), já para Mateus era o reino dos céus (Mt 4: 12-17). Segundo Marcos e Lucas, Jesus explicava o sentido das suas parábolas aos seus discípulos porque para eles era dado o conhecimento dos “mistérios do reino de Deus” (Mc 4: 10, 11; Lc 8: 9, 10); Mateus, ao relatar o mesmo episódio usa a expressão “os mistérios do reino dos céus” (Mt 13: 10, 11). Em Marcos e Lucas, Jesus ensinou que “o reino de Deus” é semelhante a um grão de mostarda (Mc 4: 30-32; Lc 13: 18, 19); na redação de Mateus, “o reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda” (Mt 13: 31, 32). Em outras passagens análogas Mateus utiliza o “reino dos céus” para se referir à mesma coisa que Marcos e Lucas dizem sobre o “reino de Deus”. O “fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado” (Mt 13: 33; cf. Lc 13: 20, 21); o motivo da ordem “deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim” (cf. Mt 19: 13-15; Mc 10: 13-16 e Lc 18: 15-17). Outra passagem muito importante é a de Mateus 19: 23, 24: “Então, disse Jesus a seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus”. Esta passagem torna-se especialmente significativa não apenas devido ao fato da primeira sentença, nos textos análogos, conter a expressão “reino de Deus” (cf. Mc 10: 23-27; Lc 18: 24-27), mas também quando se percebe que o próprio Mateus intercambia os dois termos com o mesmo sentido. Fica evidente, portanto, em razão destas e outras passagens, que, para os evangelistas, as expressões “reino de Deus” e “reino dos céus” são sinônimas. Dizem respeito ao mesmo reino. Por que então só Mateus opta em tantas passagens pela segunda expressão?
O “reino dos céus” é uma expressão idiomática judaico-cristã, comum na literatura rabínica, que seria adotada pelo povo judeu em virtude de sua interpretação supersticiosa acerca do terceiro mandamento “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão” (Ex 20: 7). Não seria razoável propor que Mateus se conformara a essa superstição, pois o mesmo não teme usar a expressão “reino de Deus” em outras passagens (cf. Mt 12:28; 19:24; 21:31; 21:43). Contudo, faz uso da expressão simplesmente em virtude da popularidade que essa tinha, entre o seu público alvo judaico, adotando o sentido de “reino daquele que está nos céus”.[3] Todavia, poderia alguém perguntar sobre qual expressão o próprio Jesus utilizou, basileia tou Theou ou basileia tôn ouranôn. A resposta é: nenhuma das duas, pois o Senhor certamente não ensinava aos seus discípulos utilizando a língua grega. Sua língua era o aramaico pós-exílico, com sotaque galileu. Se ele se referia, em sua pregação, ao reino de Deus ou dos céus, ou mesmo se intercalava as duas expressões (conforme propõem Ladd e Goppelt), não haveria maior relevância, pois, visto que as expressões distintas são utilizadas, na redação dos evangelhos, para se referir aos mesmos ensinos de Jesus, fica claro que se referem a um mesmo conceito.

Pr Emanuel Uchôa

[1] Trabalhamos a partir da teoria das duas fontes que adota a primazia de Marcos.
[2] George Eldon Ladd. Teologia do Novo Testamento, p. 94.
[3] Leonhard Goppelt. Teologia do Novo Testamento, p. 81.